Conceito budista: nada é permanente, a não ser a própria impermanência das coisas.
Nós carregamos uma vida inteira de nós mesmos, do que somos e aprendemos a ser. A nossa formação, em todos os sentidos, vai nos moldando. “Entendo a formação como sendo o molde que nos faz sermos quem somos. Nascemos. Somos educados em casa. Vamos para a escola. Nos relacionamos com professores, amigos, colegas, companheiros e nos formamos!”.
Essas palavras são da minha primeira entrevistada do ano. Sim, eu criei um roteirinho de pautas para a minha newsletter exclusiva para o Linkedin – Conteúdo na Veia – e, de dois em dois meses, quero trazer alguma pessoa que me inspire para dividir esse conteúdo comigo. E a querida da vez é uma grande mulher, a Debora Gikovate, uma das mais admiráveis transformadoras que eu conheço, que, por profissão e por hobbie, transforma alimentos. Mas o jeito dela de transformar vai muito além disso. Ela tem o dom de transformar, com palavras, gestos e excelência, todos ao seu redor.
Debora é cozinheira, especializada em doces e culinária brasileira, além de produtos veganos e alimentação sustentável. Além de food designer, é bióloga, palestrante e, segundo ela, livre pensadora.
A gente bateu um papo sobre a transformação por que todos estamos passando – e que nem todo mundo entendeu –, sobre a impermanência das coisas e sobre as transformações que a gente quer ver no mundo; sobretudo, pela ótica dos alimentos, que é o tema do qual a gente mais ama falar.
A Débora foi um grande presente que a pandemia me deu, eu realmente não posso dizer que 2020 foi um ano ruim. Tirando as perdas e as mazelas que o mundo sofreu, tivemos muitos ganhos. Foi assim: em 2019, eu conheci a filha dela e me apaixonei, inclusive virei madrinha dela no amor; aí, em 2020, conheci a mãe, que virou amiga, confidente, fez mentoria de conteúdo estratégico comigo e depois virou cliente. Um relacionamento que foi praticamente virtual o tempo inteiro.
* Fotos: arquivo pessoal – Nosso único encontro do ano e da vida, pessoalmente, foi na fábrica dela em setembro de 2020, na Gikovate Doces.
E as nossas reuniões mensais duram 4 horas, entre planos de pauta de conteúdo, vinhos e receitas, bate-papo, fofocas sinceras e afins. Quem disse que o trabalho não se mistura com a vida e não pode ser prazeroso?
Vem com a gente nesse bate-papo franco, gostoso e atual
“Transformação é, no meu entender, tudo aquilo que vai, no decorrer da vida, mudar, interferir, interagir, remodelar e, teoricamente, melhorar!” – um parecer da Debora Gikovate sobre transformação.
Abaixo relato parte da nossa conversa. Vamos às perguntas que eu (Fernanda Lage –- FL) fiz a Débora Gikovate (DG) e as resposta dela.
As perguntas que ela me fez vão ficar para a parte II. É muito assunto, minha gente (risos)!
Palavras de uma transformadora por formação – Parte I
[FL] Como surgiu esse amor pelos alimentos na sua vida. Qual foi a virada da chave?
[DG] Eu quase que não sei responder isso. Mas acho que foi comendo mesmo. Mas não o comer do dia a dia.Foi acompanhando as mudanças alimentares que meu pai ensinou a minha mãe, ensinando a ela os hábitos de sua minúscula aldeia.
Foi comendo a comida que a minha avó inventava para que meus primos e eu comêssemos frutas e verduras.
Foi vendo meu pai cobrir batata frita de chocolate. Foi casando com um cara que distribuía TUDO o que cozinhava na vizinhança pelo prazer de compartilhar. A Vida virou a minha chave.
[FL] Você é uma transformadora nata, transforma cascas e sobras orgânicas em alimentos. O que você ganha com isso? O que as pessoas ao seu redor ganham e o que o mundo ganha?
[DG] Essa transformação tem duas vertentes: uma é a de ter desespero de ver alimento (de qualquer tipo ou fonte) desperdiçado; outra é a beleza da ciência que pulsa no meu sangue. Ver uma casca ficar macia e saborosa, mudando de cor, de textura, cheiro, me faz brilhar os olhos. Sentir o cheiro de um alimento fermentando, ter a ansiedade de saber o resultado e ver que o que resulta é um novo alimento me dá taquicardia (risos).
O que eu ganho é indescritível, pois, além de ver menos comida sendo não comida, percebo mudanças nas pessoas do meu entorno. Essas pessoas repensam alguns valores e algumas práticas e olham para o alimento com novos olhos.
Cultivo em mim a crença de que se mais e mais pessoas souberem aproveitar seus alimentos melhor, proporcionalmente, poderemos ter mais pessoas comendo. Acredito nisso!
[FL] Como você tem feito ou faz para transformar o mundo das pessoas ao seu redor?
[DG] Procuro compartilhar o que cozinho e o que aprendo, pois sinto um prazer enorme em contribuir para uma vida melhor, mais justa, mais gostosa.
Além disso, gosto de dar palpites. Sou fofoqueira alimentar… E gosto de ler e estudar… Então, sempre que tenho abertura, me meto e me intrometo na alimentação das pessoas.
Não gosto de radicalismos, então não julgo e muito menos imponho qualquer prática alimentar a ninguém, mas falo alto e claro o que como, o que aprendo, o que descubro e acho que isso, devagarinho, transforma pessoas e, transformando as pessoas, transformamos o MUNDO.
[FL] O mundo vem passando por transformações profundas, a pandemia veio para acelerar esse processo. Você acredita que as pessoas estão sabendo realmente aproveitar isso para se reconectar com seus valores?
[DG] No começo da pandemia, tive uma ilusão. A doce ilusão de que cada ser pararia e olharia a sua forma de viver, de consumir, de comprar, de fazer negócios, com olhos críticos. Acreditei, naquele momento, na reflexão pura e simples.
Mas não minto. Acho que sairemos dessa crise medonha da forma que entramos: excessivamente competitivos, materialistas, consumistas e, por que não, egoístas.
Falo isso fazendo uma autoanálise, mas bem decepcionada com tudo, todes e comigo…
[FL] E, para que o mundo se transforme, qual seria o caminho?
[DG] É urgente que olhemos o Planeta como a última e única Casa que temos.
É preciso que entendamos que o Planeta é um ser vivo dos mais complexos e mais carentes.
É preciso que tomemos consciência de que coexistimos e de que, em conjunto, mas isoladamente, precisamos mudar nossa forma de existir, de coexistir.
Precisamos parar de coisificar a nossa felicidade e de achar que amanhã tudo se resolve…pois e SE amanhã não vier?
[FL] O que pode te levar mais longe, a culinária ou o desejo por um mundo mais sustentável?
[DG} O desejo de um Mundo mais sustentável passa pela culinária, por tudo o que escrevi acima.
Mas a culinária tem o poder de colaborar para um Mundo mais sustentável, desde que, como todo instrumento, saibamos usar, ou melhor, desde que queiramos aprender a usar.
Consumir de maneira racional. Cuidar de como, de quanto e do que compramos para nos alimentar. Cozinhar com calma e atenção. Comer sabendo o que tem em nossas panelas.
Entender que as sobras nem sempre são descartes…
Aqui, já temos o começo de muita… transformação!!!
E, para finalizar, dicas da Débora: Livros que AMEI: A senhora das especiarias – Chitra Banerjee Divakaruni – maravilhoso livro que passeia pelo mundo dos aromas e do amor; Como água para chocolate – Laura Esquivel – li e chorei junto com as cebolas e com os amores; Chocolat – Joanne Harris – o cheiro saía da TV, e a magia tomava conta do meu ser.
Os filmes que amei foram justamente os mesmos dos livros acima, mas também assisti mil vezes a Comer, rezar e amar.
Assisti extasiada à série brasileira sobre a Alimentação no Brasil (Netflix) – ler Câmara Cascudo foi sempre muito difícil pra mim… comecei a entender ouvindo Carlos Alberto Dória e convidados. Mas assistir tem sabor de Brasil!
Sobre a autora
Fundei a INBOX Conteúdo em 2017 para compartilhar conteúdos autênticos e verdadeiros na era digital. Sou especialista em marketing digital, consultora e escritora Ghostwriter.
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